quarta-feira, 14 de março de 2012

CONFIRA A COLUNA DO JORNALISTA HÉLIO SCHWARTSMAN DA FOLHA DE SÃO PAULO INTITULADA "A CURA GAY"



A CURA GAY

O clima é de guerra. De um lado, estão os gays e os Conselhos de Psicologia, em suas vertentes federal e regionais, de outro, os cristãos, mais especificamente o povo evangélico. O tema do embate é (aqui não há como evitar as aspas) "a cura da homossexualidade".

O certame teve início nos anos 90, quando militantes do movimento gay, em particular a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), começaram a denunciar aos conselhos os autointitulados psicólogos cristãos, que prometiam curar homossexuais.

A ABGLT pedia punições a esses profissionais com base no Código de Ética do Psicólogo, que, em seu artigo 2º, b, proíbe: "induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais".

Em 1999, depois de alguns casos rumorosos na mídia, o Conselho Federal (CFP) baixou a resolução nº 001/99, que não deixa nenhuma margem a dúvida:

"Art. 2° - Os psicólogos deverão contribuir, com seu conhecimento, para uma reflexão sobre o preconceito e o desaparecimento de discriminações e estigmatizações contra aqueles que apresentam comportamentos ou práticas homoeróticas.

Art. 3° - Os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados.

Parágrafo único - Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades.

Art. 4° - Os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica".

Evidentemente, a briga continua, mas agora no plano da opinião pública e do Legislativo. Além de nos bombardear com e-mails sobre a "perseguição" a psicólogos cristãos, os evangélicos tentam no Congresso aprovar um projeto de decreto legislativo (PDC 234/11) para sustar artigos da resolução do CFP.

Vale observar que o proponente da matéria, o deputado João Campos (PSDB-GO), também tem projetos de decreto para derrubar a decisão do Supremo Tribunal Federal que legalizou as uniões estáveis homossexuais e a que autorizou as marchas da maconha.

A iniciativa do parlamentar social-democrata (sim, há ironia no adjetivo) é uma tremenda de uma bobagem. Da mesma forma que um médico não pode hoje sair por aí dizendo que cura a doença de Huntington e um físico está impedido de afirmar que faz o tempo correr para trás, um psicólogo não pode proclamar que possui terapias efetivas contra o que seu ramo de saber nem ao menos considera uma doença. Não se pode bater de frente e em público contra os consensos da disciplina.

Não existe algo como psicologia cristã, hidrostática católica ou cristalografia judaica. Idealmente, juízos científicos se sustentam na racionalidade amparada por evidências (mas a questão é mais complicada, como veremos ao final do artigo).

É claro que a ciência, ao contrário das religiões, não trabalha com dogmas. Um pesquisador que pretenda provar que a homossexualidade é uma doença pode tentar fazê-la em fóruns apropriados, como congressos e trabalhos científicos, e sempre apresentando argumentações técnicas, cuja validade e relevância serão julgadas procedentes ou não por seus pares. Se ele os convencer, muda-se o paradigma. Caso contrário, ou ele abandona o assunto ou deixa de falar na condição de psicólogo.

Como cidadão, acredito eu, todos sempre poderão dizer o que bem entendem --além de fazer tudo o que não seja ilegal. Padres e pastores vivem afirmando que a homossexualidade é pecado sem que o céu lhes caia sobre a cabeça. É claro que a ABGLT protesta e de vez em quando um membro do Ministério Público pode tentar alguma estrepolia, mas isso é do jogo. Apesar de alguns atritos, a liberdade de expressão vem sendo relativamente respeitada no Brasil nos últimos anos, como o prova a decisão do STF sobre a marcha da maconha que o representante do PSDB quer derrubar.

Vou um pouco mais longe e, já adentrando em terrenos hermenêuticos menos sólidos, arrisco afirmar que nem o Código de Ética nem a resolução do CFP impedem um psicólogo de, em determinadas condições, ajudar um homossexual que busca abandonar suas práticas eróticas.
Imaginemos um gay que, por algum motivo, esteja profundamente infeliz com a sua orientação sexual e deseje tornar-se heterossexual. O dever do profissional que o atende é tentar convencê-lo de que não há nada de essencialmente errado no fato de ser gay. Suponhamos, porém, que o paciente não se convença e continue sentindo-se desajustado. Evidentemente, ele tem o direito de tentar ser feliz buscando "curar-se". E seu psicólogo não está obrigado a abandonar o caso porque o paciente não aceita a ciência. Ao contrário, tem o dever ético de fazer o que estiver a seu alcance para diminuir o sofrimento do sujeito.

O que a resolução corretamente veta é que o psicólogo coloque na cabeça de seus pacientes a ideia de que ser gay é uma falha moral que pode e deve ser revertida. Impede também que ele faça propaganda em que promete terapias efetivas.

Dito isto, não acho uma boa estratégia a do movimento gay de vincular a defesa dos direitos de homossexuais a uma teoria científica. Este me parece, na verdade, um erro grave.

Para começar, a ciência está calcada em hipóteses que podem por definição ser refutadas a qualquer momento. Vamos supor que o fundamento lógico para eu recusar a discriminação contra gays resida na "evidência científica" de que a homossexualidade tem componentes genéticos e ambientais, não sendo, portanto, uma escolha que possa ser modificada. Imagine-se agora que alguém demonstre de forma insofismável que tais evidências estavam erradas. O que ocorre neste caso? A discriminação fica legitimada?

Não é preciso puxar muito pela memória para lembrar que movimentos por direitos civis e "ciência" (sim, fora dos manuais de epistemologia, ela é uma atividade humana como qualquer outra que caminha ao sabor de circunstâncias políticas e constructos sociais) já estiveram em lados diferentes das trincheiras. Até 1990, a Organização Mundial da Saúde listava a homossexualidade como uma doença mental. Os psiquiatras americanos faziam o mesmo até 1977. Não sei se recomendava ou não o exorcismo, mas certamente autorizava profissionais da saúde mental a tentar a "cura".

O argumento contra a discriminação de minorias precisa ser moral. É errado discriminar gays, negros e membros de qualquer seita religiosa porque não gostaríamos de sofrer tal tratamento se estivéssemos em seu lugar.

Texto publicado no jornal Folha de São Paulo, em 01/03/2012, pelo jornalista Hélio Schwartsman. 

Leia a notícia no site.

Fonte: CFP

TRANSTORNO MENTAL : São Paulo lidera as estatísticas mundiais



]Cerca de 30% dos paulistas apresentam algum distúrbio mental, de acordo com um estudo realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 24 países. A prevalência é a maior em relação a pesquisas semelhantes feitas em outros lugares do mundo.

O estudo foi coordenado pelo sociólogo Ronald Kessler, da Universidade Harvard e publicado na revista PLoS One em fevereiro, no artigo São Paulo Megacity Mental Health Survey e aqui no Brasil realizado no âmbito do Projeto Temático “Estudos epidemiológicos dos transtornos psiquiátricos na região metropolitana de São Paulo: prevalências, fatores de risco e sobrecarga social e econômica”, financiado pela FAPESP e encerrado em 2009. Entre os autores do artigo está Laura Helena Andrade, professora do Departamento e Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina (FM) da Universidade de São Paulo (USP).

O pesquisadores se concentraram em estimar a prevalência, severidade e tratamento, de acordo com o DSM-IV. Foram examinados correlatos sócio-demográficos, aspectos da vida urbana como a migração interna, exposição à violência e privação social nos últimos 12 meses. Eles descobriram que os transtornos de ansiedade foram os mais frequentes, acometendo cerca de 20% das pessoas, seguido do transtorno de humor (11%), impulsividade (4,3%) e uso de substâncias (3,6%).

É previsto que o crescimento da população mundial se concentre nas grandes cidades, especialmente nos países em desenvolvimento. São Paulo fornece um aviso prévio sobre a carga de transtornos mentais associados ao aumento de desigualdades sociais, econômicas, estressores ligados à rápida urbanização e deterioração da saúde.

Localizada no sudeste do Brasil, a cidade detém mais de 10% da população brasileira e é a quinta maior área metropolitana do mundo, com cerca de 20 milhões de habitantes. É considerado um importante centro industrial e comercial na América Latina. Entre 1997 e 2007, o processo de urbanização aumentou a população em 10% na cidade e 25% em áreas periféricas e municípios à sua volta. Este crescimento é em parte uma conseqüência da migração rural-urbana mobilidade e dos migrantes de regiões pobres do Brasil, que buscam oportunidades de emprego, educação, assistência médica e melhores condições de vida. Como em outras áreas metropolitanas, essas mudanças levam à ocupação desordenada, falta de habitação e ampla crescimento de trabalho informal.

Esse contexto facilita o isolamento social e a dissolução das relações familiares primárias. O empobrecimento associado a essa situação produz violência, aumenta as taxas de homicídio, insegurança, tornando propício o desenvolvimento de transtornos mentais.

Ao cruzar as variáveis, os pesquisadores concluiram que as mulheres que vivem em regiões de alta privação, são as que mais sofrem de transtorno de humor, enquanto que homens migrantes têm mais transtornos de ansiedade. “É necessário que haja rápida expansão no sistema brasileiro de saúde do setor primário e trabalho focado na promoção da saúde mental. Essa estratégia pode se tornar um modelo diante de poucos recursos em uma área altamente habitada como São Paulo”, diz Kessler.

Para Laura, não é possível ter um serviço especializado em todas as unidades, por isso é preciso equipar a rede com pacotes de diagnóstico e de conduta a serem utilizados pelos profissionais de cuidados primários. É preciso capacitar não só os médicos, mas também os agentes comunitários, que devem ser orientados para identificar casos não tão comuns como os quadros psicóticos, levando em conta os fatores de risco associados aos transtornos mentais.

Fonte: Mente e Cérebro

APAZIGUANDO FANTASMAS



É do rabino Menachem Schneerson (1902-1994) a constatação de que, se não fosse o sono, não haveria amanhã e a vida se resumiria a um hoje contínuo. Se a pausa periódica na vivência da realidade externa dá unidade ao passar do tempo, também opera transformações notáveis na realidade interna. A cada noite o sono mastiga e deglute as memórias novas, esquecendo algumas e transformando outras em memórias maduras, distribuídas pelo cérebro e articuladas a outras memórias mais antigas ainda, rebanhos de pensamentos em constante evolução. 

O embate entre esquecimento e incorporação de uma nova memória depende da relação entre sua utilidade e o custo de carregá-la. Memórias derivadas de vivências aversivas são inscritas na circuitaria neuronal mais profundamente do que memórias de baixo teor emocional. Quando uma memória se refere a uma situação realmente perigosa ou indesejável, pode ser útil carregá-la mesmo à custa de sustos na vigília e pesadelos ocasionais. Mas quando a memória não se refere a nada relevante, melhor mesmo é esquecer. Quantas coisas à primeira vista desagradáveis não se transformam, com o tempo, em palatáveis e até desejáveis? 

Um experimento realizado por Matthew Walker e colaboradores da Universidade da Califórnia em Berkeley demonstrou há poucos meses que o sono de movimento rápido dos olhos, durante o qual sonhamos, facilita a atenuação da resposta a estímulos aversivos. Esse papel já havia sido previsto em hipótese, pois o sono frequentemente está alterado nos distúrbios psiquiátricos do humor. O novo estudo utilizou a ressonância magnética functional para medir a atividade da amígdala, uma estrutura cerebral envolvida na valoração de experiências aversivas, durante a apresentação de imagens desagradáveis. Duas sessões de imageamento foram realizadas, antes e depois de um período de sono monitorado eletroencefalograficamente. Os resultados apontaram uma diminuição das respostas da amígdala após o sono, com uma queda correspondente na reação comportamental às imagens aversivas. Além disso, o sono promoveu um aumento da conectividade functional entre a amígdala e o cortex pré-frontal ventromedial. Outro achado importante do estudo é a correspondência íntima entre tais efeitos e a queda da atividade de alta frequência (>30Hz) no cortex pré-frontal durante o sono de movimento rápido dos olhos. Essa atividade serve como marcador eletrofisiológico de transmissão adrenérgica. Em tese, isso pode contribuir paradiminuir a hiper-reatividade da amígdala a estímulos aversivos, causando uma habituação da resposta comportamental ao estresse. 

Os resultados podem ter implicações para o tratamento da síndrome do estresse pós-traumático, em que o sono é invadido por pesadelos recorrentes a respeito de perigos que já não existem na realidade. Se uma das várias funções do sono é apaziguar os fantasmas do passado, talvez o sonho seja mesmo a arena mais adequada para sublimar o trauma.


ELETRICIDADE PARA CURAR O CÉREBRO



Ao buscar novos tratamentos para transtornos psiquiátricos é fundamental entender o funcionamento do cérebro. Por isso, estudiosos têm se empenhado em desvendar mecanismos e circuitos cerebrais envolvidos nos transtornos de ansiedade (TA). Dados do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP) mostram que 12% da população sofre desse tipo de patologia – a porcentagem representa quase 24 milhões de brasileiros. Por definição, ansiedade é a resposta adaptativa normal do organismo ao estresse. Há casos, porém, em que se torna incapacitante e patológica, apresentando-se de forma desproporcional – o medo de estímulos rotineiros como andar de ônibus, por exemplo. Entre os TA mais comuns estão o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), de pânico (TP), de estresse pós-traumático (TEPT), de ansiedade generalizada (TAG) e de ansiedade social (TAS). 

Embora existam tratamentos eficazes e seguros com medicamentos e psicoterapia cognitivo comportamental, aproximadamente 25% de pacientes com TA não respondem a eles. Dessa forma, com os avanços alcançados nos últimos anos em relação aos mecanismos neurobiológicos envolvidos nos transtornos de ansiedade, novas formas de intervenção têm sido propostas. É o caso da estimulação magnética transcraniana (EMT), desenvolvida há quase 25 anos pelo pesquisador Anthony Barker e seus colaboradores da Universidade de Sheffield, na Inglaterra. Hoje – quase três décadas depois – a técnica é considerada importante ferramenta para pesquisas no campo da neurociência. O método não invasivo de investigação e modulação da excitabilidade do córtex altera a atividade cortical por meio da produção de um campo elétrico induzido por um campo magnético gerado através de uma bobina colocada na superfície do crânio.

Considerando os circuitos cerebrais envolvidos nos casos de ansiedade patológica, estudos de neuroimagem vêm mostrando que, no TOC, são observadas anormalidades na atividade de estruturas corticais e subcorticais, como gânglios da base, córtex orbitofrontal (COF), área suplementar motora (ASM), córtex pré-frontal dorsolateral (CPFDL) e núcleo caudado. Além disso, pesquisas sobre ressonância magnética funcional (RMf) correlacionam o TOC com o nível de fluxo sanguíneo regional cerebral, sugerindo que os sintomas são causados pela redução da inibição da atividade de circuitos corticossubcorticais e hiperexcitabilidade do córtex pré-frontal (CPF). 

Já com relação ao transtorno de estresse pós-traumático, os estudos de RMf têm demonstrado anormalidades de atividade, particularmente no hemisfério direito, envolvendo o CPF, mais especificamente o córtex orbitofrontal (COF), o CPFDL e regiões límbicas, o que sugere a associação do TEPT com a hiperatividade da amígdala e hipoatividade no CPF. 

O mesmo tem sido observado com relação ao transtorno do pânico, já que estudos de Rmf revelam o mesmo comportamento do CPFDL e da amígdala. No caso do transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e de ansiedade social (TAS), os estudos com RMf mostram anormalidades na atividade tanto da amígdala quanto do CPF ventrolateral direitos. Além disso, no TAG foram observadas anormalidades bilateralmente no córtex insular, no estriado e em áreas límbicas. 

Quando se fala em tratamento de transtornos de ansiedade, a estimulação magnética transcraniana repetitiva é considerada um método terapêutico relativamente novo, por isso ainda existem poucas evidências de sua eficácia. A maioria dos estudos foi realizada em pessoas com TOC e com TEPT e depois igualmente em menor número com pacientes diagnosticados com TD e pacientes com TAG. No entanto, somente foi observada eficácia da EMTr no tratamento do TOC e do TEPT em parte das investigações. No primeiro caso, a equipe chefiada pela psiquiatra Chiara Ruffini, da Universidade Vita-Salute San Raffaele, na Itália, verificou em 2009 que a aplicação de EMTr de baixa frequência (1 Hz) no COF esquerdo por dez minutos reduziu significativamente os sintomas de transtorno obsessivo-compulsivo por até 10 semanas após o fim do tratamento, com redução gradativa até 12 semanas do término. 

Esses achados mostram resultados satisfatórios mas não conclusivos da eficácia do EMTr como tratamento para os TA. Embora tenham sido observados resultados positivos, os parâmetros de tratamento como localização, frequência, intensidade e duração foram utilizados de forma assistemática, tornando difícil a interpretação dos resultados e fornecendo pouca orientação sobre se tais parâmetros podem ser úteis para o tratamento dos TA. Além disso, o uso da bobina placebo é importante na observação de diferenças entre os grupos. 

Uma possível explicação para o fato de apenas alguns estudos demonstrarem resultados positivos da EMTr no tratamento dos TA é a natureza focal da estimulação, com a probabilidade de só as camadas superficiais corticais serem afetadas diretamente. Atualmente, utilizando a tecnologia EMT, é possível estimular diretamente áreas corticais mais distantes, tais como OFC; discute-se também a possibilidade de estimular indiretamente através de ligações transinápticas áreas subcorticais, tais como o hipocampo, a amígdala e o estriado, que têm mais possibilidade de serem relevantes para a patogênese dos TA. Dessa forma, mais estudos devem ser realizados para investigar o papel da EMT no tratamento e na criação de protocolos de tratamento mais eficazes para os transtornos de ansiedade. Para que isso seja alcançado, os avanços tecnológicos atualmente disponíveis, como a combinação entre as técnicas de neuroimagem e a EMT, serão fundamentais.


JUVENTUDE E POLÍTICAS PÚBLICAS: ALGUMAS REFLEXÕES


É relativamente recente na sociedade brasileira a discussão acerca da importância da implementação de políticas públicas específicas para a juventude. Tal discussão é permeada por uma clara defesa dos jovens como sujeitos de direito (SPOSITO & CARRANO, 2003). Infelizmente, as políticas públicas para os jovens acontecem quando estes se tornam algum tipo de problema ou mesmo ameaça social, conforme exposto pelos autores Sposito e Carrano (2003, p.17): “Assim, somente quando alcançam a condição de problemas de natureza política e ocupam a agenda pública, alguns processos de natureza social abandonam o “estado de coisas”.

Algo que sempre vem à mente daqueles que passam por dificuldades é a falta de oportunidade que os subjugaram por toda a vida. O jovem da atualidade não deve se valer de atributos fáceis e baratos para entrar na vida do crime ou, até mesmo, acomodar-se com o pouco que lhe é conseguido com um emprego que não lhe possa dar um futuro melhor. Muitos são os exemplos da sociedade que provam que quando se quer algo, é possível conseguir de modo honesto e eficaz apesar das desigualdades presentes na relação educação-trabalho que colocam a maioria dos jovens em um patamar de “exclusão social” (NOVAES, 2003).

Dessa forma, de acordo Sposito e Carrano (2003), não podemos nos prender somente às questões de ordem profissional e educacional para determinamos políticas públicas para a juventude. Também deve se levar em conta os aspectos psíquico-biológicos que permeiam esta etapa da vida. Tudo isso porque os jovens são envoltos por um processo de mudança constante e, o que é mais importante, é um período fundamental da vida do indivíduo, em que será moldada a sua personalidade (BOURDIEU, 1983). Logo, para se criar uma política pública para juventude, primeiramente é necessário saber como um jovem elabora sua personalidade e quais os fatores e as pessoas que o influenciam. Também se deve conhecer este jovem, saber o que ele pensa, pois não faria sentido criar algo para ele sem realmente saber de suas verdadeiras necessidades (SPOSITO & CARRANO, 2003).

Tendo tudo isto em vista, o presente artigo abordará de forma sucinta, algumas questões consideradas pertinentes segundo alguns autores sobre a implementação e a prática das políticas públicas no universo juvenil.

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UM RETRATO DA ADOLESCÊNCIA: EU, CRISTIANE F., 13 ANOS, DROGADA E PROSTITUÍDA


Na década de 70, a Alemanha Ocidental era um país de primeiro mundo, superindustrializada e considerada o espelho do Capitalismo. Não existiam mendigos nem famintos, mas o número absurdo de crianças e adolescentes que dormiam na rua, se drogavam e se prostituíam tornou-se um fenômeno ao qual a sociedade estava cética e pouco interessada. Por que tantos menores eram por ela ignorados? O que os levou a se tornarem um “lixo social”? Seria a família de pais violentos, alcoólatras, “trapaceiros” e abandonadores? O lar sujo, sombrio, desumano, sem nenhuma higiene, conforto e lazer? Enfim, o preço do crescimento capitalista era deixar que o futuro dessa sociedade em “evolução” morresse antes mesmo dos 20 anos.

Que motivos tem a sociedade para não modificar as suas rígidas estruturas, para empenhar-se em mantê-las tal qual, mesmo quando o indivíduo muda? Que conflitos conscientes e inconscientes levam os pais a ignorar ou a não compreender a evolução do filho? O problema mostra assim o outro lado, escondido até hoje debaixo do disfarce da adolescência difícil: é o de uma sociedade, às vezes, frente à onda do crescimento, lúcida e ativa, que lhe impõe a evidência de alguém que quer atuar sobre o mundo e modifica-lo sob a ação de suas próprias transformações. (ABERASTURY, 1981, p.16).

A Adolescência

O adolescente é um ser social e individual, que possui suas dúvidas, angústias e desejos. Quer ter a liberdade de sentir amor e ódio, dependência e independência. Quer mostrar que sabe das coisas e busca aprender mais e mais. Quer construir sua própria família um dia, sem deixar de ter seus pais ou simplesmente quer aproveitar a vida da forma mais normal e naturalmente possível.

Para Erikson “a adolescência é um período fundamental no desenvolvimento do eu, já que as mudanças físicas, psíquicas e sociais levarão o adolescente a uma crise de identidade cuja resolução contribuirá para a consolidação da personalidade adulta” (ERIKSON apud CALL, 2004 p.313). Com relação a estas crises, Erikson dirá que elas se originam do contato social, primeiro com a família, que é a mais próxima e a que mais facilmente terá influências na conduta do adolescente e, em seguida, a sociedade em si, que intervém muito na sua conflitiva.
A sociedade, mesmo manejada de diferentes maneiras e com diferentes critérios sócio-econômicos, impõe restrições à vida do adolescente. O adolescente, com a sua força, com a sua atividade, com a força reestruturadora da sua personalidade, tenta modificar a sociedade que, por outra parte, está vivendo constantemente modificações intensas. Tendo consciência da alteração que significa o que afirmo, é possível dizer que se cria um mal-estar de caráter paranóide no mundo adulto, que se sente ameaçado pelos jovens que vão ocupar esse lugar e que, portanto, são reativamente deslocados. O adulto projeta no jovem a sua própria incapacidade em controlar o que está acontecendo sócio-politicamente ao seu redor e tenta, então, deslocalizar o adolescente. (ABERASTURY, 1981, p.53).

O mundo adulto hostiliza o adolescente em virtude de todas essas situações conflitivas que ele passa, transferindo para àquele uma atitude paranóide e moralista. Assim, se para nós, adultos “construídos” já é difícil manter a moratória imposta sobre nossos desejos, que dirá para um adolescente em formação, que quer liberar toda sua energia e seus desejos.

Peter Bloss nos mostra que a adolescência é uma fase na qual ocorrerá um segundo processo de individuação, ou seja, em vez de os pais se aproximarem emocionalmente dos seus filhos, eles irão se distanciar, dando espaço para que possam se aproximar aos iguais e criar seus vínculos afetivos. Se as figuras parentais estão internalizadas e incorporadas à personalidade do sujeito, então este pode começar seu processo de individuação.

Com base no desenvolvimento do eu e a crise de identidade de Erikson e a individuação e o processo de construção da identidade de Bloss, tentaremos trazer a luz o fenômeno punk da Alemanha dos anos 70, retratado no filme Eu, Cristiane F. -13 anos- Drogada e Prostituída.

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