quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O DESEJO DE ARRISCAR



É preciso assumir riscos? O quanto isso nos faz bem? Nem todos temos o mesmo gosto pelo perigo. Mas até sem perceber nos arriscamos todos os dias. Talvez você tenha, por exemplo, passado desnecessariamente pelo sinal amarelo ou feito um movimento perigoso ao praticar algum esporte; ou é possível que tenha, simplesmente, tomado uma decisão sem levar em conta todas as conseqüências, porque as circunstâncias pareciam exigir essa atitude.

Todo comportamento humano ou animal apresenta riscos, sempre que seu resultado tiver uma margem de incerteza. A capacidade de assumi-los está inscrita em nosso comportamento e, provavelmente, em certas estruturas de nosso cérebro. Além disso, certo frio na barriga pode ser prazeroso. Para compreender a lógica do risco, como sua necessidade aumenta e pode ser saciada, estudamos pessoas que levam esse tipo de situação ao extremo: os base-jumpers, que saltam com pára-quedas em queda livre de falésias ou pontes. Observamos que o risco responde a uma necessidade fisiológica comparável à de se alimentar nos adeptos deste esporte. Assim como comemos para saciar a fome, corremos perigo para reduzir a sensação de “necessidade de risco”. Essa sensação repousa sobre redes cerebrais e cumpre uma função de sobrevivência.

O base-jump é um esporte radical que consiste em saltar de pára-quedas de edifícios (daí a letra inicial B, do inglês building), de antenas, (antenna), pontes (span) ou falésias (Earth). Este tipo de atividade comporta um significativo risco de acidente. Estudamos três especialistas franceses deste esporte, que aceitaram responder a questionários psicológicos para avaliar as dimensões de suas personalidades, antes e depois dos saltos. Esses base-jumpers são pára-quedistas de bom nível, com disciplina de vida rigorosa que exclui o tabaco, o álcool e as drogas. Para o estudo, realizaram 20 saltos: 17 de uma falésia, dois de chaminés de fábrica, à noite, e um de uma antena de retransmissão de televisão. A altura dos saltos variou entre 90 e 300 metros, sendo que os saltos de pontos mais baixos diminuem a margem de manobra do saltador, que decide o momento de abrir o pára-quedas. Alguns eram saltos de “rotina”, efetuados de um ponto conhecido, outros “exploratórios”, comportando riscos bem maiores, em razão da incerteza relativa a condições como altura, obstáculos potenciais durante a queda ou correntes de ar.

Elaboramos questões concebidas para avaliar a propensão a se envolver no perigo. Nos anos 70, o neuropsicólogo americano Marvin Zuckerman elaborou um questionário para avaliar um tipo de comportamento chamado “busca de sensações”. Pessoas com esse objetivo procuram experiências incomuns, como o consumo de drogas, relações sexuais variadas ou, dito de forma mais geral, têm atitudes que diferem dos comportamentos “habituais”. Para avaliar esse tipo de personalidade formulam-se questões como: “Você suporta ver um mesmo filme várias vezes?” ou “Você gosta de experimentar drogas alucinógenas?”. As pessoas que alcançam muitos pontos neste questionário caracterizam-se por uma intensa atividade de seu sistema de busca de prazer.

Nosso questionário sobre o risco inspirou-se no de Zuckerman, mas com uma nuance. O risco difere da busca de sensações, evocada acima, já que nem sempre expressa uma psicopatologia. Ele reflete a capacidade do indivíduo, não de buscar prazer ou sensações, mas de realizar ações com certa margem de incerteza. Por isso nossas questões insistem neste aspecto: “Se o sinal está amarelo, sua tendência é brecar ou acelerar?” ou “Em uma escada desconhecida a luz se apaga: você pára ou prossegue tateando?”.

As respostas evidenciam a tendência para realizar uma ação mesmo quando não é possível medir conseqüências. Esta é a definição do risco. E sua escala de avaliação, chamada de EVAR, contém 24 questões referentes a cinco fatores: autocontrole, busca de prazer, energia, impulsividade e invulnerabilidade. Os base-jumpers apresentaram, antes dos saltos, pontuações excepcionalmente altas nas categorias gosto pelo perigo, invulnerabilidade, energia e autocontrole. Os saltadores se sentem, nessas circunstâncias, dispostos a tudo. Isso não quer dizer que desconheçam os riscos. E não são impulsivos. Suas pontuações, altas nos demais itens, foram normais em relação a esse aspecto. Os base-jumpers têm bom controle de seus atos, segundo lógica rigorosa. Eles podem, por exemplo, adiar suas ações quando necessário, o que um impulsivo é incapaz de fazer.

Em estudo recente já havíamos revelado uma fraca impulsividade entre pilotos de caça; eles têm a capacidade de assumir riscos, mas permanecem donos de seus atos. Em suma, a pessoa que ama o risco procura o perigo, mas decide o momento em que o enfrentará, diferentemente do impulsivo. A busca de sensações puras, reveladas pelo questionário de Zuckerman, mostrou haver uma significativa impulsividade em psicopatas ou toxicômanos. Um fato notável é que as pontuações obtidas nas categorias invulnerabilidade, energia, autocontrole e perigo foram elevadas antes do salto, mas retornaram a níveis normais logo após. Em rápidos segundos, o estado psicológico do saltador se modificara (veja quadro na pág. XX). O que se passou durante o salto?

A pessoa saciou sua sede de risco. Foi a necessidade de enfrentar uma situação arriscada que a levou a saltar, como a fome nos incita a comer. Após alguns segundos, as estruturas cerebrais que suscitaram esta “fome” foram satisfeitas. Mas que estruturas são essas? Nas pessoas em busca de sensações (consumo de drogas, experiências sexuais) os neurônios de dopamina funcionam de forma plena e este funcionamento é intensificado pela presença de testosterona. Assim, o comportamento de busca de sensações é mais marcado nos homens jovens com altas taxas de testosterona e uma intensa atividade dos neurônios de dopamina. Nesses indivíduos é muito ativo o sistema de recompensa cerebral, isto é, o conjunto de neurônios situados no sistema mesolímbico. Nas mulheres, ao contrário, a presença de progesterona estimula uma enzima de degradação da dopamina, o que explica a menor freqüência, entre elas, de comportamentos de busca de sensações. A dopamina é o neurotransmissor da recompensa: quando copulamos ou quando comemos nosso prato favorito a dopamina se fixa sobre esses receptores e nossos circuitos cerebrais da recompensa são ativados.

Quando assumimos um risco, os mesmos circuitos provavelmente intervêm. Na França, os base-jumpers são quase exclusivamente homens (há uma ou duas mulheres), o que confirma a hipótese de circuitos dopaminérgicos estimulados pela testosterona e atenuados pela progesterona. Além disso, observamos que a cafeína, que produz efeitos análogos aos da dopamina ao excitar seus receptores, mantém elevado nível de aceitação de risco entre os pilotos de caça em situações de stress e de fadiga, quando este nível deveria, ao contrário, diminuir. Assim, o risco funciona como um termostato. O nível de propensão a assumir riscos eleva-se às vezes, como a temperatura em um recinto, e um mecanismo para reduzi-la se faz necessário. Esse mecanismo é a aceitação do risco, que expõe o indivíduo a uma situação de perigo e de incerteza, sacia seu desejo e então reduz a temperatura.

O risco se torna nefasto quando é excessivo ou insuficiente. Um motorista que não estivesse disposto a assumir nenhum risco deixaria imediatamente de dirigir. Uma propensão máxima ao risco, por outro lado, provocaria infrações e delitos no volante que limitariam as chances de vida da pessoa. É o risco percebido, e não o risco real, que é objeto de regulação. Assim, uma pessoa brincando de roleta-russa sem saber que não há nenhuma bala na arma saciará sua sede de risco, mesmo que o risco real seja nulo. Nos anos 70, quando os países do Norte da Europa adotaram a direção do lado direito, previu-se um aumento do número de vítimas do trânsito. Mas, ao contrário, houve uma diminuição. O paradoxo pode ser explicado pela sensação de risco: em condições de circulação pouco familiares, o risco percebido é superior e, assim, basta uma pequena infração (por exemplo, transitar um pouco acima do limite de velocidade) para que as pessoas sintam um risco considerável, o que sacia a sede de risco. Em condições de trânsito familiares, pelo contrário, é preciso assumir um risco real superior (por exemplo, passar pelo farol vermelho) para correr um risco percebido equivalente.

No período paleolítico riscos significativos eram assumidos no cotidiano. Para comer era preciso matar um animal, tarefa que comportava uma probabilidade considerável de ser morto ou ferido. Naquele período os neurônios do risco eram indispensáveis e se fixaram de forma durável, já que as pessoas desprovidas deles não podiam sobreviver. Hoje banimos o risco de nossas vidas. Essa segurança excessiva surge na forma de inúmeras garantias: aposentadoria, segurança social, seguros de automóvel, de residência e de vida, prática médica legalizada e decisões políticas fundadas no princípio da precaução. Talvez essa seja a razão pela qual alguns jovens sentem a necessidade de se expor a situações extremamente perigosas. Sabemos de adolescentes que atravessam estradas para testar quem é o mais hábil em evitar os carros. É provável que os mesmos neurônios que suscitam esses comportamentos outrora incitassem os caçadores a enfrentar um urso a golpes de pedras.

Não é de surpreender que alguns indivíduos ainda tenham um “termostato” de risco regulado em um ponto muito alto. São provavelmente homens jovens com taxas de testosterona significativas, para os quais as atividades sociais atuais, talvez excessivamente seguras, não bastem. Seria preciso oferecer-lhes esportes radicais, aventuras ou profissões arriscadas, como a de policial, piloto de caça ou bombeiro. Outros encontram o risco em cassinos ou na bolsa, pela incerteza ligada a estes tipos de atividade. Todos temos o instinto do risco? Sem dúvida, mas em graus diversos. Mesmo no Paleolítico nem todos os membros da tribo eram caçadores. Especialistas mais inclinados aos riscos do que outros se encarregavam desta tarefa. Foram talvez os ancestrais dos base-jumpers.

Por Bruno Sicard e Olivier Blin


Fonte: Folha.com

DEPRESSÃO AGRAVA PROBLEMAS DO CORAÇÃO



Há muito tempo os médicos suspeitam que depressão acentua problemas cardíacos e vasculares. Agora, uma pesquisa publicada no periódico Heart corroborou essa hipótese e mostrou que a combinação é mais perigosa do que se pensava. O estudo feito pela psicóloga Martica Hall, da Universidade de Pittsburgh, na Pensilvânia, revelou que a probabilidade de morte de pessoas com depressão e problemas cardíacos é praticamente cinco vezes maior, quando comparadas com as que não apresentam nenhuma dessas patologias. Por outro lado, em relação a pessoas saudáveis, pacientes com diagnósticos de depressão apresentam dois terços a mais de risco de desenvolver problemas cardiovasculares. 

Para chegarem a essa conclusão, os cientistas analisaram cerca de 6 mil voluntários e verificaram se fatores como idade, sexo e estilo de vida interferiam nos resultados. Surpreendentemente, doenças cardiovasculares tinham presença relativamente insignificante quando as variáveis eram levadas em conta. Já a associação entre depressão e problemas cardíacos se mostrou altamente perigosa, em todos os casos. O mecanismo que regula a letalidade da depressão ainda é desconhecido, mas muitos especialistas acreditam que reações inflamatórias associadas a respostas ao estresse talvez desempenhem um papel importante nesse processo.


O LUGAR DAS LEMBRANÇAS




Por volta de 1920, o psicólogo Karl Lashley fez uma série de testes, hoje famosos, na tentativa de encontrar a parte do cérebro onde as lembranças são guardadas. Ele treinou ratos a aprender sair de um labirinto, em seguida provocou lesões em várias zonas do córtex cerebral tentando apagar aquilo que ele definia um “engrama”, ou seja, os vestígios da memória original. Foi um fracasso: os ratos conseguiam encontrar a saída independentemente da parte do cérebro que tivesse sido danificada. Lashley concluiu que as memórias não ficam armazenadas em apenas uma área, mas sim distribuídas por todo o cérebro. Estudos posteriores sobre os amnésicos – particularmente aqueles de Brenda Miller sobre o paciente HM (vide artigo na página 42) – indicaram mais tarde que uma área cerebral, o hipocampo, tem um papel decisivo na formação das lembranças. Mais recentemente foi demonstrado que o córtex frontal também faz parte do processo; hoje se considera que as novas lembranças sejam codificadas no hipocampo e depois transferidas aos lobos frontais para a conservação em longo prazo. 

Uma nova pesquisa dirigida por Christine Smith e Larry Squire, da Universidade da Califórnia em San Diego, fornece agora a prova de que a “idade” de uma memória determina o quanto nos apoiamos no córtex frontal e no hipocampo para relembrá-la. Em outras palavras, a fixação de uma lembrança no cérebro muda de acordo com quanto tempo de vida ela tenha. Os pesquisadores avaliaram a atividade cerebral associada à recuperação de lembranças antigas e recentes. A experiência reuniu 15 voluntários masculinos sadios, cujo cérebro foi examinado com ressonância magnética funcional (fMRI) enquanto respondiam a 160 perguntas sobre fatos que aconteceram em vários períodos ao longo dos últimos 30 anos. Um teste aparentemente simples, mas que exigiu um projeto experimental bastante complexo porque era necessário evitar algumas variáveis que poderiam ter provocado confusão.

Em primeiro lugar, quando alguém nos pede para nos lembrarmos de um determinado acontecimento, o cérebro não elabora apenas a pergunta que fomenta a recuperação da memória, mas também a evocação que leva a isto, portanto esta atividade pode interferir naquilo que se está avaliando. Além disso, é provável que as lembranças mais recentes sejam mais ricas e vivas que as mais antigas; portanto a potência do sinal da fMRI poderia estar associada não só ao momento em que aconteceu o fato lembrado, mas também à riqueza de detalhes com que o indivíduo se lembra dele. Enfim, as lembranças recuperadas poderiam ter uma forte associação com os acontecimentos pessoais dos indivíduos, o que poderia facilitar a sua recordação. 

Smith e Squire planejaram então o teste de forma a avaliar os efeitos da idade de uma lembrança independentemente da elaboração das perguntas feitas ao indivíduo e da riqueza com a qual ela é evocada. No início da experiência, apresentaram em ordem casual blocos de perguntas sobre os acontecimentos de cada período, perguntando aos voluntários se eles conheciam ou não a resposta. Passados cerca de dez minutos, enquanto ainda estavam no scanner, os voluntários tinham de responder a três perguntas sobre cada acontecimento. Em primeiro lugar, eram solicitados a lembrar a pergunta original sobre o acontecimento (para avaliar com que eficiência tinham elaborado a informação). Depois eram solicitados a responder aquela pergunta (para avaliar a exatidão da lembrança); e finalmente eram questionados em relação a quanto soubessem sobre cada um dos acontecimentos (a fim de avaliar a riqueza de cada lembrança). 

Em geral, a capacidade dos indivíduos de lembrar um fato ocorrido diminuía de acordo com o tempo transcorrido desde que ele havia sido registrado. Como era previsível, eles se recordavam melhor os fatos mais recentes que os mais antigos. Os pesquisadores também observaram que a memória das perguntas que lhes haviam sido apresentadas e do conteúdo de cada acontecimento não tinha relação com o tempo transcorrido desde o acontecimento em si. A riqueza da lembrança também não estava relacionada com o tempo: com frequência, as recordações dos fatos que haviam ocorrido em um passado remoto eram tão cheias de detalhes quanto aquelas dos acontecimentos mais próximos.

Os pesquisadores utilizaram para a análise apenas os dados das perguntas que foram respondidas corretamente, a partir das quais se revelou que as estruturas do lobo temporal medial (hipocampo e amígdala) mostravam uma atividade gradualmente decrescente à medida que os indivíduos se recordavam de lembranças mais e mais remotas. No entanto, esta diminuição da atividade coincidia com a lembrança dos fatos que haviam acontecido no máximo 12 anos antes; já a evocação de acontecimentos ainda mais distantes estava, ao contrário, associada a um nível de atividade constante naquelas áreas. Nos lobos temporais frontais, parietais e laterais notava-se o esquema de ativação oposto: nestas áreas, a atividade aumentava de acordo com quantos anos tinha o fato lembrado, mas se mantinha constante durante a evocação dos fatos mais recentes. 

Esta pesquisa oferece provas anatômicas e funcionais que confirmam as descobertas obtidas pelos indivíduos com lesões cerebrais e deficit de memória. Pacientes como H.M., com lesões no hipocampo em ambos os hemisférios, não perdem apenas a capacidade de formar novas recordações, mas também a lembrança dos fatos que aconteceram nos anos anteriores ao surgimento da amnésia. A lembrança dos fatos ocorridos em um passado longínquo permanece intacta, enquanto aqueles que tiveram lugar em épocas não tão distantes e não tão recentes são esquecidos gradualmente. Este resultado sugere que, com o passar do tempo, o hipocampo perde a importância para uma determinada lembrança, enquanto o córtex frontal adquire. A teoria da memória de Lashley não estava correta, mas tampouco completamente errada. Mas por que as velhas lembranças deveriam ser transferidas do hipocampo ao córtex frontal? Talvez porque evocar antigas recordações exige associações mais fortes e um maior esforço. A elaboração da memória no córtex frontal é mais complexa que no hipocampo e envolve uma rede muito extensa, com um número mais elevado de conexões. O córtex frontal seria portanto mais estruturado para a tarefa de recuperar lembranças que foram codificadas em um passado mais distante.


ANVISA APROVA ANTICOAGULANTE DE USO ORAL PARA TRATAR AVC




O único anticoagulante de uso oral que pode ser tomado com outras medicações, a rivaroxabana, já pode ser usado para prevenção de doenças vasculares como AVC (acidentes vasculares cerebrais), embolia sistêmica em pacientes com arritmia cardíaca, como a fibrilação atrial, e no tratamento de TEV (tromboembolismo venoso), conhecido como trombose.

A liberação foi feita pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Em estudos feitos com o medicamento, o risco de recorrência de trombose profunda caiu pela metade.

O Brasil é o país com maior número de mortes por derrame cerebral no continente. São quase 130 mil casos todos os anos, segundo dados da Ispor (Sociedade Internacional de Farmacoeconomia, na sigla em inglês).

A fibrilação atrial é um tipo de arritmia cardíaca que atinge cerca de 1,5 milhão de brasileiros e é uma das principais causas de derrame cerebral, responsável por 20% de todos os casos registrados no país.

A trombose que atinge entre uma e duas pessoas por grupo de mil habitantes no Brasil, compreende os casos de trombose venosa profunda e de embolia pulmonar. É caracterizado pela obstrução total ou parcial da veia por um coágulo, que impede o retorno do sangue ao coração da forma correta.

SHAKESPEARE TEM MUITO A ENSINAR SOBRE MEDICINA




O autor de peças clássicas como "Hamlet" e "Romeu e Julieta" não foi apenas um dos mais importantes dramaturgos da história. William Shakespeare (1564-1616) também tem muito o que ensinar sobre medicina, segundo o médico britânico Kenneth Heaton, da Universidade de Bristol, no Reino Unido.

Os sintomas e as sensações de muitos personagens indicam que Shakespeare tinha uma noção particularmente aguçada do relacionamento entre mente e corpo.

E essa característica parece ser quase única dele. Heaton analisou um número semelhante de peças e poemas contemporâneos de outros autores e notou que esse traço não era tão comum.
"Shakespeare era excepcional no uso de distúrbios sensoriais para expressar perturbações emocionais", escreveu Heaton na revista "Medical Humanities".

Ele estudou 42 obras do "Bardo" e 46 de outros autores, como John Marston.

MÉDICOS MELHORES
Ele argumenta: "Muitos médicos relutam em atribuir sintomas físicos à perturbação emocional. Isso resulta em atraso no diagnóstico, excesso de investigação e tratamento inadequado. Eles poderiam ser médicos melhores estudando Shakespeare."

"Na minha carreira de gastroenterologista, vi muitos pacientes com sintomas funcionais, sem nenhuma causa orgânica, especialmente síndrome do cólon irritável. Perguntando a eles sobre suas vidas quando os sintomas começaram, ficou óbvio que era geralmente em momentos de angústia emocional, hoje chamada de estresse", disse Heaton à Folha.

As mudanças sensoriais examinadas no comportamento e na descrição dos personagens de Shakespeare são induzidas por estresse, mas o texto nem sempre permite um diagnóstico preciso.

Heaton descobriu cinco ou seis casos de vertigem ou tontura em obras de Shakespeare e só uma em outros autores; 11 ou 12 casos de falta de ar contra dois; três casos de surdez no britânico e nenhum nos seus contemporâneos; entre outros exemplos.

"Esse estudo demonstrou que Shakespeare frequentemente usa sensações corporais desagradáveis como sinais de estresse mental e faz isso muito mais do que seus contemporâneos."

Por exemplo, a heroína trágica Julieta sente "um fraco medo frio" passando por suas veias antes de tomar a poção que simularia sua morte.

"Alguém sentindo frio devido ao medo fica pálido; a frieza e palidez de Julieta vêm da diminuição do fluxo de sangue através da pele."

"Com demasiada frequência, cuidadores evitam tentar descobrir as emoções por trás de queixas físicas e preferem dar aos seus pacientes rótulos que evitam julgamento, como 'sintomas medicamente inexplicáveis'. Eles reconhecem o papel da ansiedade e da dor em gerar doenças orgânicas e de comportamento, mas negam o papel da emoção na produção dos sintomas", afirma.

"Shakespeare pintou esses sintomas como reações humanas naturais aos estresses da vida", conclui o médico.  

Fonte: Folha.com

CCJ ADIA VOTAÇÃO DE PROJETO CONHECIDO COMO ATO MÉDICO


A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado Federal não deliberou nesta quarta-feira (21) sobre o PLS 268/02, que dispõe sobre o chamado Ato Médico. Os trabalhos da Comissão foram encerrados sem que a deliberação tenha sido feita. Na ocasião, os senadores Marta Suplicy (PT-SP), Demóstenes Torres (DEM-GO) e Luiz Henrique (PMDB-SC) fizeram pedido de vista coletivo. Ainda não tem data prevista para nova votação.
Na terça-feira, 20 de dezembro de 2011, o CFP em conjunto com outras profissões da saúde fez mobilização no Senado Federal pela não aprovação do PL. O texto do chamado Ato Médico não é consenso entre as profissões da saúde. Em carta entregue aos senadores membros da CCJ, o Conselho Federal de Psicologia, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, o Conselho Federal de Enfermagem, o Conselho Federal de Fonoaudiologia e o Conselho Brasileiro de Óptica e Optometria, explicaram as razões: “o projeto fere não somente uma profissão, mas sim todo um paradigma de saúde que nosso país conquistou arduamente ao construir o Sistema Único de Saúde (SUS) e que, com ele, fortalece a ideia de que a saúde é uma construção multisetorial”.  Veja aqui a carta.
Além da CCJ, a matéria será examinada pelas Comissões de Educação, Cultura e Esporte (CE) e de Assuntos Sociais (CAS).
Psicólogas, psicólogos, a mobilização continua!
Envie manifesto contra o PL do Ato Médico, clique aqui.

O CFP e outras entidades profissionais da Saúde vem questionando o PL desde o início de sua tramitação no Congresso. Veja o histórico das ações em http://www.naoaoatomedico.org.br

Fonte: CFP

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

COMPULSÃO POR COMPRAS PODE ESTAR ASSOCIADA À LESÃO CEREBRAL



Com a aproximação do Natal é comum que lojistas aumentem seus estoques, prontos para o boom de compras que ocorre todos os anos nessa época. Em meio a tantas opções, muitas vezes fica difícil decidir o que comprar e não estourar o orçamento. E para pessoas com lesões no córtex pré-frontal ventromedial, segundo estudo publicado na Journal of Neuroscience, pode ser mais complicado ainda.

Para chegar a essa conclusão, o neuroeconomista Joseph Kable, da Universidade da Pensilvânia, trabalhou com dois grupos: um composto por voluntários saudáveis, para controle, e outro com pessoas com possíveis danos no córtex pré-frontal ventromedial causados por infarto, aneurisma ou tumor. Em seguida, foi solicitado aos participantes que escolhessem entre diferentes kits que incluíam sucos de fruta e barras de chocolate, estando em cada um especificado o valor dos itens e o preço total da cesta pronta.

As opções eram: dois chocolates e seis sucos, três barras e três bebidas ou quatro doces e nenhum suco. O somatório de cada conjunto, no entanto, nem sempre correspondia ao preço real: alguns valores eram maiores do que se os produtos fossem comprados separadamente. Como esperado, os participantes do grupo de controle foram capazes de analisar cada combinação e fizeram escolhas coerentes, percebendo quando a proposta não compensava. Já os voluntários com lesões corticais mostraram maior dificuldade em decidir, optando algumas vezes por artigos com preços abusivos, sem se darem conta disso.

ASSÉDIO MORAL


Vítimas desenvolvem sintomas de transtorno de estresse pós-traumático

Coação, humilhação e constrangimento são situações que muitas vezes não são percebidas como agressão dentro das empresas. O assédio moral é uma forma de violência psicológica extrema no ambiente de trabalho e, infelizmente, frequente – no Brasil, 36% dos trabalhadores a sofrem de forma sistemática, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Conflitos nas relações de trabalho são normais e até mesmo saudáveis. No entanto, se eles se desdobram em episódios de estigmatização, exclusão e, em alguns casos, em ofensas físicas e verbais, a situação se caracteriza como assédio moral. Suas possíveis causas vão desde a cultura do ambiente do trabalho, que fecha os olhos às condutas repressivas e arbitrárias dos superiores sob o pretexto de aumentar a produtividade, até variáveis individuais, como a vulnerabilidade da vítima e a personalidade do agressor, que em mais de 90% dos casos, é o chefe direto.

O dano psicológico pode se manifestar desde sinais de estresse, como irritabilidade e insônia, até distúrbios psíquicos graves, como depressão e abuso de substâncias químicas. Estudos de vários países têm apontado que pessoas que sofrem assédio moral desenvolvem sintomas semelhantes aos do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), como tensão, hipervigilância e pesadelos recorrentes. Deve-se considerar, além disso, o impacto sobre as relações sociais e afetivas das vítimas – 82,5% delas apresentam problemas de memória, 67% têm baixa autoestima e 60% desenvolvem depressão, segundo pesquisa conduzida pela médica do trabalho Margarida Barreto, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que entrevistou 42.000 trabalhadores do setor público, de empresas privadas e de organizações não-governamentais (ONGs).

Entre os efeitos econômicos, estão maior número de faltas ao trabalho e perda de produtividade. O índice por doenças cardiovasculares decorrentes da degradação das condições de trabalho aumenta em todos os países, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, há apenas leis municipais e estaduais sobre o tema e uma lei federal que veda empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). Há, no entanto, um projeto de lei em discussão no Congresso Nacional que propõe a inclusão do assédio moral no Código Penal, com penas de três meses a um ano de cadeia e multa para o agressor.

RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE - 2012/2014

 
O Presidente do Instituto de Medicina lntegral Professor Fernando Figueira – IMIP torna público que será realizada nesta cidade do Recife, SELEÇÃO DE TÍTULOS E PROVAS para: RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE, com foco na estratégia de Saúde da Família, em convênio com o Ministério da Saúde.

Maiores informações, acesse:  http://www.imip.org.br/.

Fonte: Imip

INJEÇÃO QUE PODE TRATAR ESQUIZOFRENIA CHEGA AO BRASIL NESTE MÊS


Uma injeção que precisa ser tomada apenas uma vez por mês chega ao mercado brasileiro em dezembro e pode ajudar a contornar um dos principais problemas do tratamento da esquizofrenia: o abandono da medicação.


"Muitas vezes o paciente não se dá conta de que está doente e corta a medicação. Uma alternativa que diminua a frequência de remédios ajuda na aderência e no controle da medicação", diz Helio Elkis, coordenador do Programa de Esquizofrenia do Hospital das Clínicas da USP.

Aprovado em junho pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o palmitato de paliperidona é o que se chama de antipsicótico --um remédio que ajuda a prevenir distúrbios característicos da doença.

Um levantamento feito pelo Instituto de Psiquiatria do HC revelou que cerca de 50% das pessoas com esquizofrenia abandonam a medicação após um ano do início do tratamento.
Essa interrupção pode agravar os sintomas da doença e favorecer o acontecimento de surtos psicóticos.

Além dos fatores psicológicos, os muitos efeitos colaterais da medicação também são apontados como razão para que os pacientes abandonem os remédios.

Os remédios, sobretudo os mais antigos, podem desencadear desde aumento de peso até rigidez muscular e um quadro de tremores parecido com o do mal de Parkinson.

O excesso de saliva e a dificuldade de controlá-la, que deram o apelido pejorativo de "louco babão" aos afetados, derivam, na verdade, da medicação, e não são sintomas naturais do transtorno.

Para controlar esses efeitos indesejáveis, muitos pacientes usam conjuntamente outros medicamentos.

COQUETEL
Como no Brasil a maioria das pessoas com esquizofrenia toma antipsicóticos em forma de comprimidos diários, é comum que haja um verdadeiro "coquetel" de pílulas, facilitando o esquecimento e até o abandono da medicação pelos pacientes.

"Diminuir a quantidade de remédios é algo bom, mas eu diria que a maior vantagem do palmitato de paliperidona é a redução dos efeitos colaterais", diz Rodrigo Bressan, coordenador do Proesq (Programa de Esquizofrenia) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Embora menores, as reações adversas também acontecem com os usuários.
Um estudo com o remédio publicado na revista especializada "Schizophrenia Research" lista, entre outras coisas, ganho de peso, dores de cabeça e insônia.

Ainda assim, como em boa parte dos remédios recentes, esses efeitos foram menos intensos do que nos da primeira geração de antipsicóticos.

O TRANSTORNO
Os mecanismos que causam a esquizofrenia --transtorno que afeta cerca de 1% da população mundial, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde)-- ainda não foram totalmente esclarecidos. Sabe-se, no entanto, que existe um componente hereditário forte.

Filhos de esquizofrênicos têm mais chances de desenvolver a doença, embora ela também apareça em pessoas sem histórico familiar.

O transtorno costuma se manifestar entre o fim da adolescência e o início da vida adulta. Em geral, os sintomas aparecem nas mulheres de forma um pouco mais tardia do que nos homens.

Além das manifestações mais conhecidas, como alucinações auditivas e visuais, pessoas com esquizofrenia podem apresentar diminuição da capacidade de raciocínio, abstração, perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas e quadros de depressão.

DE VOLTA AO PRESENTE



Evitar um erro da adolescência; viver de novo um grande amor: a viagem no tempo tem sido um anseio da humanidade desde que ela se permitiu sonhar. A Física 2T, teoria de Itzhak Bars, dá mais uma dimensão a este mistério e tem pontos de intersecção com as ideias há tempos formuladas por Platão e Agostinho.



“Há na verdade quatro dimensões, três das quais nós chamamos de os três planos do Espaço, e uma quarta, o Tempo.” Com estas palavras, o Viajante do Tempo, icônico personagem de H. G. Wells, explica a seus incrédulos amigos a estrutura do Universo. O Viajante é o protagonista de A máquina do tempo, clássico de 1895. Exatamente cem anos depois, um físico da Universidade do Sul da Califórnia faria uma correção ao que a‹ rma o personagem de Wells.

O físico é Itzhak Bars, e sua teoria, cujas noções começou a elaborar em 1995, é chamada por ele de “Física de Dois Tempos” (ou, simplesmente, “Física 2T”). Bars propõe que o Universo teria, além das três dimensões espaciais e uma temporal, a que estamos habituados (3+1 dimensões), mais uma de cada (4+2).

O tempo já é considerado há muito pela Ciência como uma dimensão, que experimentamos como duração, uma espécie de “ž uir”. Uma de‹ nição prática de “dimensão”, em Física, é dada pelo físico teórico americano Brian Greene. Ele explica, em seu livro O Universo elegante, que podemos marcar de nos encontrarmos com alguém “no 9.º andar do edifício na esquina da Rua 53 com a 7ª Avenida”. Mas, além dessas três dimensões, é necessária mais uma, tão importante quanto as primeiras, para assegurar o sucesso do nosso encontro: “às 3 da tarde”. Portanto, são necessárias quatro dimensões para localizar precisamente um evento no espaço-tempo.

 “Por uma enfermidade natural da carne”, para usar o vocabulário rebuscado do Viajante do Tempo, nós somente conseguimos perceber a realidade física como tetradimensional, com as três dimensões do espaço (para cima e para baixo; para frente e para trás; para os lados) e uma dimensão do tempo (do passado para o futuro). Por isso, é natural que a Física também tenha se desenvolvido levando em conta apenas estas quatro dimensões. Mas, para os físicos modernos, isso parece ter se tornado pouco para entender o Universo. Cientistas como o dr. Bars acreditam que 3+1 dimensões são insuficientes para descrever adequadamente o nosso mundo, da mesma forma como sombras nas paredes são insuficientes para capturar a verdadeira essência de um objeto.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE É CONTRA FINANCIAMENTO DE COMUNIDADES TERAPÊUTICAS PELO SUS


A discussão sobre o financiamento de comunidades terapêuticas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para a recuperação de doentes mentais e dependentes químicos, foi um dos temas da 14ª Conferência Nacional de Saúde, que terminou hoje (4) em Brasília. A proposta foi rejeitada pelo movimento de reforma psiquiátrica brasileira nos primeiros dias do evento e sequer chegou à plenária de votação do relatório final.

De acordo com o conselheiro nacional de Saúde Pedro Tourinho, a proposta foi rejeitada porque os profissionais e usuários de saúde entendem que a melhor forma de tratar o adoecimento mental e a dependência química é o processo terapêutico que integre o cidadão ao local onde vive.

“Nas comunidades terapêuticas, se tira a pessoa de onde ela vive e depois ela volta ao meio que levou à drogadição [situação de dependência química]. O movimento acha que ele não tem eficácia e que serve para atender a grupos de interesses econômicos e religiosos”, explica Tourinho. A ideia é que as propostas aprovadas na conferência sejam seguidas nas três esferas de governo – municipal, estadual e federal.

Neste ano, o governo federal intensificou a discussão sobre a interação entre os setores público e privado no funcionamento das comunidades terapêuticas. Em julho, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma nova resolução para atualizar os requisitos mínimos para o funcionamento dessas comunidades a fim de incluí-las na rede de atendimento do SUS.

Em agosto, representantes da 4ª Conferência Nacional de Saúde Mental participaram de um encontro com o ministro da Secretaria-Geral de Presidência da República, Gilberto Carvalho, para apresentar o posicionamento contrário ao financiamento das comunidades terapêuticas pelo SUS. O grupo alega que a medida é um retrocesso para as políticas da área.

VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA CONJUGAL



A violência psicológica é tão preocupante que requer a abordagem da suposta "naturalização" social cuja incidência pode minar a autonomia, a iniciativa, a coragem, a segurança de crianças e jovens em pleno desenvolvimento emocional e social que precisa de referências éticas de adultos - familiares (pais, e/ ou cuidadores) para estabelecer parâmetros de interações não predatórias e de consumo.

O descaso com o outro e a prática de "brincadeiras" que rompem a fronteira do lúdico e instalam uma particular ou generalizada sensação de incompetência pessoal a quem escuta apelidos, chacotas, "tiradas de sarro", bem como pressionar alguém (crianças, adolescentes, mulheres, gays, homens) a deslocar a sua emoção saudável para canais inadequados, por exemplo, comer ou beber demais, usar drogas, vivenciar sexo compulsivo (instala transtornos alimentares ou outras formas de compulsão), são consequências da "naturalização" da violência psicológica.


Para responder ao cenário difícil que vivemos, a Psicologia Clínica ampliada de base gestáltica não oferece receitas ou fórmulas. Trabalhamos com pesquisas e preparação de famílias (encontros em grupo de homens/pais, atendimentos a casais; reflexões de textos, orientações sobre organização social e aquisição de documentos, etc.)1 para encontrar tempo (uma exigência diária que o casal requer praticar se quiser manter a convivência) visando examinar profundamente a dinâmica das interações entre os integrantes e contribuir para que cada um entre em contato com os próprios sentimentos. Consideramos que a coragem e ação formam uma polaridade que contribui preventivamente para reduzir a violência psicológica conjugal e familiar...

As formas de violência psicológica privadas aqui tematizada ocorrem no domínio das casas, praticadas entre casais, ou por familiares contra crianças e idosos e por outros atores não consanguíneos. São problemas sociais e de saúde que afetam todos os segmentos da sociedade, independente de sexo, idade, grau de instrução, classe social ou religião, e estão presentes em todas as culturas.


A violência é deliberada como uma relação de força qualificada que aponta a atitude de quem detém o domínio de anular o outro na sua condição de sujeito

Incidem em diversas esferas econômicas. Sendo assim, o entendimento em sua complexidade requer abordagem interdisciplinar e transversal, o que possibilita ampliar a compreensão e criar estratégias de prevenção e intervenção. Exige, ainda, ato do Estado² na elaboração e concretização de políticas públicas para educação: socializar, fomentar o conhecimento para que todos usufruam dos bens culturais e científicos da humanidade; políticas públicas para a saúde aplicando impostos na construção de postos e unidades básicas de atendimento e na manutenção das já existentes; e políticas públicas para trabalho criando postos e capacitação. Em síntese, a ação do Estado no campo das políticas para educação, saúde e trabalho é preventiva para evitar que as famílias reeditem a instalação das violências privadas.

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'SER FIEL É TÃO ARRISCADO QUANTO TRAIR', DIZ PSICANALISTA




Autor de livros de sucesso, o psicanalista britânico Adam Phillips atrai leitores fugindo do jargão e tratando de temas como o flerte ou a gentileza, que não costumam receber atenção acadêmica. Suas obras, que combinam psicanálise, filosofia e literatura, são populares, mas ele mesmo, não. Nem e-mail tem. "Restringi ao máximo minhas formas de comunicação."
Phillips trabalha agora em "Missing Out", um livro sobre coisas que deixamos de lado na vida, a ser lançado no segundo semestre de 2012.

Nesta entrevista feita em seu consultório, em Londres, o autor de "Monogamia" fala sobre riscos da crença no "felizes para sempre".

Folha - Em "Monogamia", o senhor diz que não há nada mais escandaloso do que um casamento feliz. Por quê?
Adam Phillips - O que amamos e odiamos num casamento feliz é ver nossos primeiros desejos e medos acontecendo na vida real. Toda criança começa seu desenvolvimento em uma relação monogâmica, com a mãe. E a maioria passa os primeiros 11, 15 anos da vida muito conectada a mãe e ao pai. É uma espécie de monogamia bissexual. Crescer é passar da necessidade de ter só uma pessoa para a necessidade de ter duas (mãe e pai) e a necessidade e a capacidade de se relacionar com várias.

Daí nossa tendência para a relação monogâmica?
A relação monogâmica é uma memória muito poderosa, é onde começamos. Hoje, muita gente acha difícil manter uma relação monogâmica. Queremos coisas opostas, desejamos coisas proibidas e não sabemos que queremos essas coisas. A cultura torna os desejos muito problemáticos. Muitas pessoas desejam um relacionamento monogâmico, apesar de não serem capazes de lidar com ele.

Quais são as maiores dificuldades da monogamia?
Os problemas surgem quando as pessoas desejam esse tipo de relacionamento, mas não conseguem realizá-lo. E para quem pensa que é isso o que deseja, mas descobre que não era o que queria.

A solução, no caso dessas pessoas, é a infidelidade?
Sim. E pode dar certo, mas sempre com conflito. Todo mundo tem ciúme sexual, ninguém suporta dividir seu parceiro de sexo. Alguns dizem que suportam, mas é impossível. Se amamos e desejamos alguém, não queremos dividi-lo com outros.

Isso tem a ver com a memória da relação entre mãe e bebê?
Sim. E também com o fato de termos necessidades e só determinadas pessoas poderem satisfazê-las.

Concorda com a tese de que mulheres são por natureza propensas à monogamia?
Acredito na teoria da evolução de Darwin, mas penso que evolução envolve cultura. Há boas explicações em termos de sobrevivência da espécie para sustentar que a mulher quer um homem para a vida toda e o homem deseja mais parceiras, mas não acho que a questão da sobrevivência seja a explicação final. Se fosse, a família nuclear seria a única coisa óbvia a se fazer.
Há diferentes formas de garantir a reprodução da espécie, há muitos jeitos de criarmos as crianças. E muitas formas de fazer sexo, não explicadas por essas teorias.

O senhor diz que uma sociedade sem a possibilidade de infidelidade seria perigosa...
Seria uma mentira. Colocaria pressão demais nos casais, obrigando um a ser tudo para o outro. É uma demanda moral irrealista. Outro perigo é a monogamia acabar com o desejo e virar uma prisão.

Acha a sociedade hipócrita em relação à monogamia?

Sim, se ela afirmar que é a única forma boa de relação para todos e o tempo todo.
Mas hoje também há muita gente dizendo que toda relação monogâmica é hipócrita, o que não é verdade. Para alguns, é um desejo genuíno, uma experiência real.


Tão real quanto traição?
As duas formas são construções sociais. O capitalismo trivializou a paixão, fez com que as pessoas se desiludissem em relação ao amor. Isso leva a pensar que as relações sexuais são algo que se compra no mercado só para levar a vida adiante. O capitalismo tenta dissuadir a criação de vínculos reais. E valoriza demais o prazer. E, para a psicanálise, o prazer é sempre um problema. Qualquer pessoa que te venda um prazer fácil está mentindo. Se o que queremos é prazer profundo, com troca entre pessoas, ele será difícil, cheio de conflitos.

Como lidar com os conflitos?
As crianças deveriam ter aulas na escola sobre frustração, para entender como ela é valiosa. Para adultos, a psicanálise ajuda, é educativa. Os adultos precisam aprender a ser adultos. A maioria age como adolescente, não quer crescer, acredita em fórmulas mágicas de relacionamento.

A fórmula 'feliz para sempre'?
Claro, é um ideal enganoso. Assim como achar que a pessoa que não se prende a ninguém é livre. São dois ideais igualmente enganadores.

A monogamia não é também uma forma de evitar riscos?
Pode ser. Correr riscos é muito importante, mas não devemos pressupor que todos os riscos estão na infidelidade. Fidelidade é tão arriscada quanto traição, há muitos riscos na monogamia.

Quais são eles?
Numa relação monogâmica, cada parceiro sabe e não sabe muitas coisas íntimas sobre o outro. Outro risco é descobrir as limitações do relacionamento humano, o quanto a outra pessoa pode de fato fazer por você. E há o risco de formar uma família.

Por que não considerar esses riscos tão atraentes quanto os riscos da traição?
Não fomos capazes de produzir relatos excitantes sobre a monogamia. Os bons romances são sobre adultério. Por isso, é difícil articular de forma interessante os prazeres da monogamia. Fica parecendo algo tedioso. Além disso, fomos educados para acreditar que a vitalidade está na heresia. Mas pode haver vitalidade nos dois tipos de relacionamento. O ocidental moderno e culto assume que a vitalidade esta só na heresia. Também está, mas essa não é toda a verdade.

Do que precisamos, afinal?
De boas histórias que nos ajudem a viver. As únicas verdades úteis são as que nos ajudam a viver. Num relacionamento, o que você precisa é criar uma história na qual se sinta vivo com a outra pessoa.

Hoje, temos mais opções para criar essa história?
Não sei. A cultura liberal oferece mais escolhas do que havia antes. Mas o capitalismo cria a ilusão de que temos muitas escolhas, quando na verdade temos muito poucas.
A única escolha é ser feliz ou não. É isso que está sendo vendido como o único programa: quanto prazer você pode ter, quão feliz pode ser. Só que felicidade pode ser como uma droga, nunca satisfaz, você quer sempre mais. Há coisas muito mais importantes que a felicidade: justiça, generosidade, gentileza.