As emoções entre as mulheres e os homens despontam nas revistas científicas e não científicas como objeto da Psicologia, da Biologia, da Neurologia e da Psiquiatria. Há muitos escritos abordando a natureza inata das emoções, o caráter genético de certos comportamentos emocionais (ódio, amor, inveja) ou, ainda, a profundidade, a manipulação ou a perversão do sentimento.
Alguns livros, oriundos da literatura erudita de autoajuda (Por que os homens mentem e as mulheres choram?), apresentam argumentos das ciências biológicas e da saúde sem o necessário debate e confronto com outras pesquisas e com as ciências sociais/humanas, repetindo, assim, ideias batidas e sem criatividade.
Paralelamente, o senso comum consagra esta divisão de tarefas emocionais: aos homens caberia a razão prática e o controle emocional, e às mulheres a emoção expandida e a paixão. Nada mais falso do que essa imagem, apesar das afirmações recentes da Psiquiatria e das ciências médicas ao "descobrirem" o poder dos hormônios ou a diferença das estruturas cerebrais.
Infelizmente, os sentimentos têm sido reduzidos a uma questão pessoal ou meramente biológica quando, na verdade, é possível falar de emoção entre classes sociais, gerações e outros agrupamentos sociais.
O sociólogo Norbert Elias (1897-1920), nos livros O processo civilizador e Sociedade de Corte, apesar de não construir uma Sociologia das emoções como campo científico, propõe no âmbito de uma "educação civilizatória", reflexões em que os sentimentos estão associados às formas civilizacionais assumidas pelas sociedades ao longo da história.
Assim, se pudéssemos transportar pessoas que viveram em outras épocas e civilizações para uma viagem no tempo, perceberíamos toda uma gama de sentimentos muito diferentes, mas intensos. Tomemos, por exemplo, o hábito, no Brasil Império, de colocar escarradeiras na sala para recolher o pigarro dos moradores e visitantes. Isso causaria nojo aos homens e mulheres contemporâneos, da mesma forma que certos hábitos atuais suscitariam horror, vergonha e ódio nos homens e mulheres do Brasil naquela época.
Dessa forma, para Norbert Elias, o desenvolvimento da noção de civilização na Europa, com toda sua sustentação social e econômica, correspondeu, simultaneamente, ao aumento do sentimento de vergonha e do nojo e da tendência de esconder, nos bastidores da vida social, a causa desses sentimentos.
A ideia de refinamento dos costumes, do autocontrole emocional e da higiene pessoal e pública surge como ideal da civilização ocidental, ampliando a fronteira entre privado e público, bem diferente dos costumes, e óbvio, dos sentimentos vividos na Idade Média.
Por isso, é possível, sem menosprezar as investigações das ciências médicas sobre o peso das estruturas biológicas e genéticas, afirmar que os sentimentos e suas formas de se manifestar são também elementos sociais, estruturantes da forma como interagimos, presentes na virulência dos preconceitos sociais ou na suavidade da ternura a dois.
Porém, a sisuda Sociologia continental ou europeia quase não deu atenção direta a esse aspecto fundamental da vida em sociedade. Não era a preocupação central de Durkheim (1858-1917), Weber (1864-1920) e Marx (1818-1883) (consagrada "trilogia" das Ciências Sociais), mas é importante notar que, apesar de não haver uma preocupação direta com as emoções, é possível ler, nas entrelinhas de seus escritos, ou até mesmo em textos "menores", reflexões bastante expressivas.
É possível perguntar, a partir das questões suscitadas por uma Sociologia das emoções, como os autores "clássicos" resolveram a questão da subjetividade no arcabouço teórico que construíram.
Durkheim, acusado (ou elogiado) de ser o "pai" do positivismo nas Ciências Sociais, escreveu textos e livros nos quais aborda uma "Sociologia do simbólico". Dentre eles está o relativamente pouco conhecido As formas elementares da vida religiosa, um dos últimos livros publicados. A leitura desse livro relativiza o rótulo de "pai do positivismo sociológico".
Durkheim, ao analisar os rituais das tribos australianas (sua dinamogenia), por meio de relatos de viajantes e missionários, coloca a emoção como parte indissociável da estrutura social. O ritual de celebração dos totens tribais teria como tarefa essencial perpetuar na memória dos homens a emoção original que os mobilizou e os fundou como sociedade. Em outras palavras, a emoção é resultante do estado de sociedade, condição sem a qual o homem não pode existir. Já no livro O suicídio, Durkheim apresenta os sentimentos, emoldurados por sua Sociologia, como fenômenos resultantes de processos sociais amplos de solidariedade e anomia, decorrentes da divisão social do trabalho.
Próximo a essa perspectiva "externalista" e estrutural, situa-se Karl Marx, para quem a individualidade psicológica e as emoções (raiva, inveja, ira) são frutos das relações de produção e das forças produtivas. As classes sociais e os conflitos decorrentes da guerra gerados entre as mesmas caracterizariam os sentimentos, determinados pela marcha histórica da "luta de classes".